Se você tem filhos, trabalha e pensa em trocar de carreira, é preciso não só encontrar uma ótima oportunidade profissional, como também um empregador family-friendly. Se este for o caso, vale entender o contexto da vida profissional do possível empregador antes de fazer parte da equipe. Obter informações de como a empresa presta suporte a outros pais ajudará a entender se suas atitudes e sua cultura se alinham ao que você quer e precisa.
Antes mesmo de pesquisar empregadores potenciais, identifique o que você procura. Assim, você poderá buscar e analisar a oportunidade que deseja, começando por avaliar se a organização escolhida lhe dará essa oportunidade e o estilo de vida que você almeja. Avalie, também, os compromissos mais importantes que você tem com sua família que poderiam afetar o seu tempo no trabalho – como jantar com ela todos os dias, treinar o time de futebol do seu filho, ou ajudar com os trabalhos remotos da escola. Pense nos benefícios que você quer ter do empregador e quão importantes eles são para você e sua família. Reflita sobre como seus empregadores atuais e anteriores não conseguiram identificar o que faltava. Pode ser válido, também, visualizar o cenário ideal para uma pessoa com filhos, tanto nos dias atuais como em longo prazo, à medida que seus filhos ficam mais velhos ou a família cresce.
Então, conforme as oportunidades apareçam e você consiga marcar entrevistas, faça a lição de casa. É provável que você se sinta limitado, uma vez que não temos saída e estamos realizando entrevistas de forma remota, sem poder conhecer a cultura do escritório em primeira mão; ainda assim, é possível obter muitas informações, bem como fazer várias perguntas a fim de encontrar a melhor oportunidade. Como fazer:
Recursos Online
Comece pelo site da empresa. Analise como a empresa fala sobre os funcionários e o que divulga no que tange ao apoio a eles. Criar um ambiente para os pais que trabalham é o primeiro item da lista. Analise a liderança sênior e o Conselho de Administração da empresa. Você saberia dizer se eles têm família? Eles conversam sobre um ambiente family-friendly? Há mulheres? Se a sua resposta for “não” para a maioria dessas perguntas, o ambiente não deve ser family-friendly – especialmente para os níveis mais seniores, o que pode sinalizar um alerta para as oportunidades de crescimento em longo prazo.
Procure também informações sobre Grupos de Recursos de Funcionários (ERGs, na sigla em inglês), prestando atenção especial aos grupos oferecidos a pais e mães que trabalham fora. Caso você queira agregar à sua família, procure por qualquer informação publicada com relação à licença parental e programas oferecidos às mamães novatas, como aumento do meio período ou trabalho de casa. Verifique se essas opções se estendem aos pais novatos.
Sempre quando a empresa mostra funcionários no seu site – como em artigos publicados, em seu blog ou em comunicados à imprensa, procure informações sobre um dia da pessoa que demonstre uma vida profissional razoável, ou que mostre que os colegas e a empresa como um todo causaram impacto positivo na vida profissional ou na família dos funcionários (A empresa de contabilidade DHG, por exemplo, conta essas histórias no seu blog corporativo.). Em seguida, compare as histórias com o que você encontra no website.
Pesquise além do site da empresa também. Faça uma busca rápida por notícias recentes, sejam elas boas ou más. Leia as avaliações de funcionários atuais e ex-funcionários em lugares como Glassdoor e verifique a lista dos “100 mais” em publicações como aquelas divulgadas no Working Mother. Se você planeja agregar à sua família, procure informações sobre licença parental colaborativa, como o site List Your Leave para complementar as informações do site da empresa. Procure entrevistas com líderes seniores para ver o que compartilham sobre a vida em família.
Conexões Pessoais
Além dos recursos online, tire proveito da sua rede de conexões para obter histórias pessoais sobre a empresa obtendo um panorama mais completo de uma pessoa com filhos que trabalha para esse empregador. É provável que você encontre sinais de alerta ou adquira ideias para fazer perguntas durante as entrevistas.
Utilize o LinkedIn e o Facebook para encontrar amigos, amigos de amigos, conexões dentro de sua rede profissional, ou colegas de escola que possam estar empregados – ou já foram funcionários – daquela empresa. Converse com eles sobre a cultura da empresa e questione a sua política em oposição à realidade. Se forem ex-funcionários, não tenha receio de perguntar por que saíram dela.
Converse, também, sobre o equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional. Pode ser algo simples, como “Muitas mães estão sob ‘monitoramento’” ou “Todos os pais acabam pertencendo à mesma equipe.” Talvez a empresa tenha tentado um programa para apoiar os pais que trabalham fora, mas não tenha dado certo. O que a empresa aprendeu? O que você descobriu acerca da razão pela qual os pais que trabalham fora saíram? Existe um padrão consistente de os pais saírem da empresa por falta de apoio?
Entrevistas com os Atuais Membros da Equipe
Ao chegar na fase de entrevistas, questione sobre o cargo em questão, mas procure também saber mais sobre a empresa e sua cultura. Considere quem está entrevistando e ouça com atenção o que é compartilhado. Se todos os seus entrevistadores falam que não têm família, ou que têm filhos e um cônjuge ou cuidador em casa, isso pode ser um mau sinal.
É, também, uma ótima oportunidade para ouvir como é um dia normal em sua vida. Observe a extensão de um dia de trabalho regular e se há reuniões em sequência ou videochamadas por todo o dia, todos os dias. Isso pode indicar horas extras ou uma expectativa de trabalho até tarde da noite ou de início logo cedo pela manhã.
Outro assunto a ser abordado em suas entrevistas é a flexibilidade. Procure estruturas formais, como divisão de trabalho, opções de meio período, jornadas com escalas, flexibilidade no dia a dia para o caso de seu filho ficar doente, ter algum evento na escola ou exigir a sua atenção quando você estiver trabalhando de casa. A Covid-19 mudou a forma como os empregadores lidam com a flexibilidade, particularmente com relação ao trabalho remoto. Pergunte sobre a experiência deles durante a pandemia. Como os gestores e o empregador deram apoio aos funcionários que supervisavam o aprendizado à distância dos filhos ou a diversão das crianças pequenas? Será que a flexibilidade e o trabalho remoto já estão inseridos na cultura do trabalho – ou foram considerados temporários? Lembre-se de que ser family-friendly vai muito além da gestão da vida profissional com seus filhos. Descubra como esse empregador presta apoio às famílias com pais idosos, bem como com parentes doentes.
Se você tem dúvidas em relação aos benefícios, fale com o seu contato no RH. Pergunte a respeito dos benefícios e estruturas de suporte para funcionários com filhos. Esses benefícios podem incluir o pagamento do transporte do leite materno que as mães retiram durante o trajeto ou dos cuidados com os filhos ou parentes mais velhos. Pergunte, também, sobre programas de bem-estar no ambiente de trabalho que ajudam na prevenção de casos como burnout.
Escolher o cargo certo não se trata somente de checar a função para a combinação correta, mas você também quer que a empresa seja o encaixe perfeito. Faça uso dos vários recursos disponíveis logo no início e durante a entrevista para desvendar sinais de alerta, e faça pesquisas para entender como será a vida pessoal e a profissional com o novo empregador. Há muitas organizações family-friendly mundo afora. Separe um tempo para entender por completo a oportunidade, tanto em nível profissional como pessoal antes de fazer parte da empresa.
Suzanne Brown faz palestras e presta consultoria sobre o equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional. É autora dos livros premiados “Mompowerment: insights from successful professional part-time working moms who balance career and family” e “The mompowerment guide to work-life balance”. Brown auxilia as empresas a se tornarem mais flexíveis e as mães a criarem um equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional.
Fonte HBR