A internet, apesar dos seu vinte e poucos anos, abriga aquilo que chamam de “contos milenares” – contos esses que, muitas vezes, são até mais jovens do que a própria rede mundial. Vai entender. Dia desses, navegando por aí, cruzei com uma dessas fábulas sem dono, mas que guardava um final tão surpreendente, que salvei o texto.
Como o conto é curto e sem autoria comprovada, peço licença poética para reproduzir parte dele aqui e incrementa-lo com algumas linhas minhas.
O texto conta uma história mais ou menos assim:
“Em uma planície muito muito distante, viviam um urubu e um pavão.
O urubu-de-cabeça-preta, um desses abutres do Novo Mundo, estava alegre, pois tinha acabado de sair de uma corrente térmica quentinha. Bonito, vistoso, de plumagem preta e brilhosa, como águia, erguia sua cabeça depenada e rugosa ao horizonte.
Com visão privilegiada e olfato apurado, não era fã da carniça. Preferia a pupunha e as sementes.
Não era um exemplo de ave perfumada, é verdade, mas estava longe de ser malcheiroso como seus colegas de voo.
E também havia o pavão. Da sua parte, preferia as frutas, as sementes e os insetos. Dono de uma cauda exuberante branca, púrpura, verde, amarela e azul cintilantes, assim como o urubu, nunca admitia em público fraquezas da autoestima.
A solidão da planície, todavia, guardava seus mistérios e, um dia, ambos se encontraram para uma conversa em um galho em comum.
Começou o pavão:
– Sou a ave mais bonita do mundo animal, tenho uma plumagem colorida e exuberante, porém, nem voar eu posso, de modo a mostrar minha beleza. Feliz é você, urubu, que é livre para voar para onde o vento o levar
O urubu-de-cabeça-preta pensou, no início, tratar-se de provocação. Calou-se.
Entretanto, seguiu-se a lamúria do belo pavo, ecoando pelos campos, e chegando aos seus ouvidos alertas. O cabeça enrugada, apesar do elogio, não celebrou.
Pelo contrário, ele também tinha os seus dilemas. E, em vez de agradecer, murmurou:
– Que infeliz ave sou eu, a mais feia de todo o reino animal e ainda tenho que voar e ser visto por todos. Quem me dera ser belo e vistoso tal qual você, pavão
Foi quando, ao mesmo tempo, os vizinhos tiveram uma brilhante ideia: por que não atingir a ave perfeita, promovendo o cruzamento entre pavão e urubu?
– Seria ótimo! Nosso descendente voaria como um urubu e teria a exuberância do pavão, proferiram em uníssono
Então cruzaram, cheios de esperança. E esperaram pelo nascimento do primeiro rebento.
No dia do parto, a planície se encheu de expectativa. O filhote veio envolto em uma fralda, na boca de uma cegonha branca. Ao desenrolar-se, o esperado bebê chocou a todos. Era um barulhento peru – feinho, feinho, e desprovido da dádiva de voar.
Moral da história: se a situação está ruim para você, não procure o caminho mais fácil, porque só piora.
Fonte: Linkedin – Marc Tawil